30 abril 2012

uma menina muito caseirinha

Até descobrir que gostava de me mexer (17 anos, portanto), era difícil arrancar-me de casa e dos meus livros. Mas depois aprendi que nem sempre é Inverno e pode saber muito bem andar a levar com o céu na cabeça e o cheiro da relva, do mar, do que quer que venha com o vento. De modo que arrumei um tempo para a casa e outro para sair, que agora me faz muita falta.
Isto para me queixar (claro) que já não posso ver as minhas paredes de 3 metros de altura, que tanto trabalho nos deram a pintar. O meu bebé tem estado doente nos últimos 3 fins-de-semana, o tempo tem estado esta miséria, e não tenho sequer com quem sair para festejar o bicampeonato. Já fiz todos os bolos, experimentei todas as receitas, actualizei todos os textos, vi todas as séries, montei todos os Legos, pintei todas as unhas e cosi todas as joelheiras para esta estação. Agora estava mais numa de ir a Sintra, a Cascais, ao Meco, à Costa, caramba, ao jardim da Gulbenkian, que já estou em Portugal há 7 meses e meio e não há meio de sair do mesmo raio de 5 km. OK? OK.

29 abril 2012

mas alguém acha que isto é normal?

Eu bem sabia, lá nas profundezas do meu subconsciente, que havia uma razão para eu nunca ter feito parte das groupies da Maria (e do gato) que ia para Bruges e depois afinal foi para Timor. Apetecia-me chamar uns nomes mas ando a tentar conter-me na maledicência, leiam vocês isto, se quiserem.

o melhor iogurte do mundo

Ora então, a receita do meu iogurte grego. Ainda vou tentar variações com leite de soja e com fruta, mas este é bastante bom.

Ingredientes:
1 litro de leite do dia meio-gordo
meio pacote de natas
meia embalagem de leite condensado
3 colheres de sopa de iogurte grego

Na Bimby, misturar todos os ingredientes a 50º C durante 5 minutos, à velocidade 4. Deitar nos boiões previamente lavados e esterilizados e pôr na iogurteira durante 12 horas. Refrigerar, pelo menos, 2 horas. De seguida, verter o conteúdo para um passador coberto por um pano bem limpo (uso um resto dos meus lençóis ex-King Size, que cortei), deixando o passador a repousar numa taça alta, indo tudo ao frigorífico. Sinceramente não sei quanto demora todo o processo de filtragem porque entretanto vou dormir. O que fica retido no pano é, então, novamente colocado à colher nos boiões et voilá! Ou seja, isto ainda demora e dá um certo trabalho, mas são realmente saborosos e estimo que fiquem a cerca de metade do preço dos de supermercado. O soro que sobra também dá para aproveitar - eu usei como um belíssimo tónico facial e fiquei com pele de bebé. Como o iogurte mesmo sem a filtragem é bom (só a consistência é diferente), não sei se volto a ter paciência para a greguificação tão cedo :)

27 abril 2012

só um bocadinho de sol

Este ano prometeu ser difícil e acho que, pior que isso, está a ser sombrio. Sempre houve desilusões, perdas, insuficiências, falhas. Sempre houve desemprego, injustiça, doença e morte. No entanto, de certa forma - e acho que a ubiquidade da vida em rede contribui para isso -, estamos permanentemente a ouvir (e sentir) novas dores e desgostos. Pesa. É duro. Uns reagem com rabugice (como eu) e outros limitam-se a fechar-se completamente. Neste momento, acho de uma grande crueldade da parte do tempo que o céu esteja cinzento há semanas. Não se faz. Bem sei que precisamos da chuva mas precisávamos todos muito mais de um dia de sol. Depois logo podia voltar o sistema frontal e a ventania húmida. Só um dia de sol para fazermos todos de conta que estamos na Jamaica e que podemos simplesmente estar, de olhos fechados, a sentir o calor na pele. Mais nada.

26 abril 2012

toma lá que é para não te armares em fascizóide

Uma pessoa escreve um post fastidioso das comemorações do 25 de Abril e, zumba!, é logo adicionada a uma qualquer lista de endereços de divulgação de temas de extrema-direita. Não está certo, não senhor. Mais valem aqueles emails que insistentemente me perguntam se quero aumentar o meu pénis. Não tenho um mas nunca se sabe, um dia.

a minha rede social

Diz-me com quem te dás virtualmente, dir-te-ei quem és actualmente. Será? É claro que nem todos os nossos verdadeiros amigos estão no facebook. Além disso, não sabemos coisas básicas acerca de alguns dos que lá estão. E, pelo menos no meu caso, apesar das limpezas ocasionais, ainda há para lá gente de quem não sei nada há muito tempo. Já para não falar dos 8% que adicionei sem nunca lhes ter posto a vista em cima. Mesmo assim, dá para ter uma ideia engraçada daqueles que me rodeiam.
Dos meus amigos facebookianos, há dois terços de mulheres para um terço de homens. Metade são sensivelmente da minha faixa etária, 14,5% são mais novos e 35,5% mais velhos. Há gente com toda a espécie de profissões, com maior representação de sociólogos, técnicos, engenheiros, juristas/advogados e gestores - mas quem havia de dizer que 2% são marinheiros? Quase dois terços são profissionais qualificados e há mesmo 12,5% de empresários ou quadros superiores de empresas (e eu a pensar que só me dava com pelintras). Contudo, que eu saiba, há 3,3% de desempregados. No que toca às origens, 84% são portugueses (dos estrangeiros mais representados, 5,3% são americanos e 3,3% são italianos) mas apenas 73% vivem em Portugal. Pelo menos 38,2% são católicos, 15,1% assumem-se como agnósticos/ateus e 1,3% são protestantes. E nota-se que é tudo um bocado coca-bichinhos: dois terços são licenciados, 18,4% mestres e 10,5% são cromos com doutoramento. Os solteiros são o dobro dos que vivem em união de facto (12%) mas os casados são os mais representados (37,5%). Mesmo assim, já há quase 5% de divorciados e 0,7% de viúvos. E há mais freiras do que recasados. Finalmente, um apontamento lúgubre: destes todos, se eu batesse a bota agora, não mais do que um quarto deles iriam ao meu funeral. Mas isso das fantasias funeralescas dava todo um outro post.

25 abril 2012

o vinte cinco d'abril às criancinhas

Filho: Mamã, por que é que hoje é feriado?
Mãe: Porque há muito tempo atrás, neste dia, as pessoas vieram todas para a rua para mudar as coisas, para impedir que mandassem nelas sem que elas pudessem decidir nada, nem dizer nada. Mas, para dizer a verdade, não sei por que é que ainda comemoramos isso todos os anos.
Filho: Porquê?
Mãe: É um bocadinho como se estivessemos sempre, sempre, sempre a descarregar o autoclismo depois de fazermos um grande cocó, a seguir a uma temporada de prisão de ventre.
Filho: Mas isso não se faz, gasta muita água.
Mãe: Pois, aí é que está: cada um é livre de gastar a água que quiser.

(conversa hipotética)

24 abril 2012

antevisão

As rosáceas a florir no rosto, as mãos secas e venosas, foram o primeiro indício de que aquela era a minha imagem daqui a uns anos. A senhora à minha frente, na caixa do LIDL, ostentando as raízes brancas que cresciam da tinta acajou, empurrava timidamente as compras e disfarçava um ligeiro tremor das mãos. Duas garrafas de vinho branco, duas paletes de cerveja, uma espécie de licor, croissants, legumes para sopa, oito patêzinhos para gato - nisto das listas de compras sou de uma precisão cirúrgica - encavalitados no tapete rolante à espera de passar o código de barras. Senti vontade de abraçá-la, de resgatá-la do que serei e ela já foi (já é). Fiz um esforço muito grande para não transparecer a pena que sentia daquele estereótipo tornado realidade. Saiu-me um sorriso torto quando agradeci (e declinei) a oferta de passar à frente. Eu só levava rúcula, leite, iogurte e, provavelmente, o ar de quem a vida ainda corre sobre os carris. Lá chegarei: à solidão de um exagero de animais domésticos, da bebida, da desistência da juventude. Os quarenta podem ser lixados para quem não desiste de exigir demasiado.

23 abril 2012

gralha dixit candidatando-se miseravelmente a blogue de laifestaile

Ignorem tudo na fotografia menos o boião de iogurte, o primeiro que fiz. Macacos me mordam se não é o melhor iogurte grego da História! Boa semana :)

20 abril 2012

o terceiro

Quando o Gustavo tinha a idade que o Diogo tem agora, decidimos fazer mais um bebé. E lá veio a confirmação certeirinha numa linda pousada do centro do país, num fim-de-semana bucólico em que descansávamos de uma vida que parecia relativamente fácil. Era muito fácil (e bom) ter um rapazinho by-the-book, o trabalho não nos pesava, e até chegávamos a ir ao cinema e coisas assim.
Claro que o pendor para a nostalgia me faz pensar, agora, no "então como é? isto agora é que era, que já não vais para nova", mas é uma ideia que passa rápido e de forma (praticamente) indolor. Sobretudo em dias como hoje, em que o meu ainda bebé está doente.
Tenho perfeita consciência que não tenho cabeça para três. Porque não sou descontraída, porque preciso muito de espaço e de tempo - chamem-lhe egoísmo-, se calhar porque tenho demasiadas expectativas acerca do que é ser boa mãe; ou então, não, sou apenas honesta comigo própria e sei que seria areia demais para o meu camião.
Então e se tivéssemos meios para suportar três mensalidades de creche, uma empregada para a casa, uma baby-sitter sempre ao dispor, dois automóveis, férias com babá e ainda algumas pontuais escapadinhas a dois que blogues e revistas de viagens nos vendem como obrigatórios e 'saudáveis até para os próprios filhos'? Não sei. Não há nada que se compare ao amor de e por um filho. É claro que a loucura de ter três rapazes (óbvio que nunca sairia menina) tem qualquer coisa de aliciante. Mas gosto tanto deles, dois, e de nós, quatro. Sempre me agradaram as simetrias, essa é que essa.

Adenda 1: Chateia-me um bocado pensar que podia haver mais seres humanos espectaculares como os meus filhos, isso chateia.
Adenda 2: Também me chateia fechar este capítulo da minha vida, o capítulo parideiro. Não gosto de fechar capítulos em geral.

19 abril 2012

há muito tempo que não entrava num provador

Continua a valer mais a pena comprar coisas sem experimentar. Está provado cientificamente que os espelhos dos provoadores não só fabricam carnes, buracos, olheiras e cabelos despenteados como verdadeiras auto-estradas para a quebra na auto-estima. Mas nem era sobre isso que queria falar: ontem fui pela primeira vez na vida à Primark e o meu coração exulta de alegria por encontrar alguma coisa mais barata do que as lojas dos chineses. E aquilo até tem coisas engraçadas.

Tentando ignorar as vozes na minha cabeça que me dizem que só podem ter sido vietnamitas da idade dos meus filhos a produzir aquilo.

18 abril 2012

salivando

O aniversário trouxe uma fugaz, porém relevante, engorda da carteira. Este ano, quero lá saber: vou desgraçar-me no the book depository. Livro de biblioteca é bom mas eu gosto de lhes poder pousar a caneca do café em cima à vontade.

17 abril 2012

do desfralde (porque sei que é um tema que interessa a todos)

Tem corrido às mil maravilhas. Não há um único chichi que não seja feito no bacio.
Já os cocós, são todos nas cuecas. E tantos que têm sido, senhores.

16 abril 2012

este estilo de maternidade

Sofro do complexo dos perfeccionistas: acho que tudo aquilo em que toco poderia ter ficado um bocadinho melhor. Mas estou em sossego com a minha forma de encarar a maternidade, pelo menos na fase em que me encontro, de mãe-de-dois-rapazes-pequenos.
Gosto de trabalhar e de ir buscá-los ao fim da tarde. Gosto de perguntar-lhes se brincaram muito e com quem. Gosto de lhes ver as calças curtas, as joelheiras a descolar e o cabelo despenteado. Gosto de responder a questões existencialistas, a um, enquanto sugiro chichis no bacio, ao outro, de 5 em 5 minutos. Gosto que sejam amigos e que partilhem brinquedos, guloseimas e amassos. Gosto que comam sempre a sopa de legumes mas que também haja dias em que o jantar são cachorros e não há drama nenhum. Gosto que se deitem cedo para que nós, adultos, também tenhamos existência própria, mas que haja sempre tempo para estórias antes de adormecer. Gosto que uma das primeiras palavras do mais novo tenha sido 'estória' e que o mais velho aprenda muitas palavras todos os dias. Gosto que desenhem na mesa azul e no quadro de ardósia. Gosto que adormeçam sem sobressaltos e que acordem bem-dispostos. Os meus filhos rabujam, estragam, disparatam e atrapalham-se como qualquer criança; eu irrito-me, suspiro, bufo e, às vezes, berro como qualquer mãe, mas gosto mesmo de nós assim.

13 abril 2012

o meu presente de aniversário

Jardineiro: Vossa Alteza que mais ordena? A pomba desapareceu.
Príncipe: Era tão bonita... Arma-lhe um laço de fita a ver se a conseguimos agarrar.
Jardineiro: O meu trabalho é humilde, mas é bela a minha obra: obra de transformação. Lido com a terra. Mas faço mudar a alma. Faço mudar os sentimentos, abrandando o coração. Também ajudo a descobrir o palpitar que há nas coisas: pedras, plantas, bichos, homens (...).
Arma um laço de fita, como o príncipe mandou. Surge a pomba.

Y. K. Centeno, As três cidras do Amor

O meu primo, o meu primeiro melhor amigo, que não vejo há pelo menos 25 anos, quer estar comigo. Cativei-o muito devagarinho e ele deixou-se cativar. Falta só todo o tempo que temos pela frente e muitos abraços que não sabemos bem como dar.

11 abril 2012

no caminho inverso

Enquanto tanta gente de valor, esforçada e a quem desejo continuação de bom caminho, reeduca alimentações e estilos de vida, perde peso e ganha bons hábitos de actividade física, eu forço o ponteiro no sentido oposto. Vou compreendendo, chocolate a chocolate, aqueles que preenchem vazios emocionais com calorias. É burrice, bem sei; se não resulta para os outros, também não há de resultar para mim. Entretanto, devoro bonbons e colheradas de leite condensado. Sempre são socialmente mais aceitáveis do que as drogas e o álcool e permitem-me adiar mais uns tempos a urgência de endireitar as ideias sobre a minha vida. Imagino-me no Verão, na praia, a esconder o rabo em pareos e a enfardar Magnuns de amêndoas. Não faz mal, é isso que se espera, no fundo, de uma trintona mãe-de-filhos.

09 abril 2012

ressurreição

Foi a primeira Páscoa, em 13 anos, sem comungar. Mas valeu a pena por ter, de alguma forma, percebido algo que nunca tinha percebido antes. E isso implica que ainda há esperança, até para mim. Entretanto, e apesar de só ter iniciado o consumo de chocolates e amêndoas às 0:45 de Domingo, as calças quase já não me servem. Vou assobiar para o lado e culpar a altura do mês.

05 abril 2012

ao cuidado das farmacêuticas

(não, não vos vou rogar pragas - por agora)

E que tal desenvolverem uma droga porreirinha para uma pessoa se tornar 'positivista'? É que o meu problema não é falta de optimismo, nem problemas de ansiedade ou de depressão; não, o que eu estava a precisar era mesmo de me transformar numa daquelas alminhas que conseguem sempre, sempre ver o lado bom das coisas (ou inventar um, à falta de melhor), que enchem os blogues e as casas de verde-água, de flores, de citações e de musiquinhas de cantautor de pé descalço. O que eu queria mesmo era acreditar que a minha vida se resolve com vocações, metas, listas, objectivos e conquistas, e não de passar o tempo a magicar em coisas tão démodé e tabu como os vulgares problemas de dinheiro e de trabalho. Era isso. É que já não me aturo.

04 abril 2012

acesso comuna

Filhos da mãe dos porcos capitalistas das companhias de seguros que gostam de nos vender a cena para nos sentirmos todos muito evoluídos e Estado-independentes e depois não nos reembolsam a cintigrafia do miúdo. Espero que as unhas dos pés lhes nasçam para dentro e que os turbos dos Audis lhes falhem na auto-estrada semanalmente.

03 abril 2012

truces

Alegria da semana: o meu bebé orgulhoso das suas novas "quecas, quecas, quecas!". Enquanto não se despir para as mostrar a toda a gente, por mim, maravilha.