26 agosto 2014

ora então é isto a vida de uma lisboeta livre e desempoeirada

Ter o frigorífico vazio e ir antes comer um gelado. Descobrir resguardos e lençóis para lavar e decidir dormir no saco-cama. Procurar a sessão de cinema que implique o mínimo esforço e máximo de prazer, permitindo ainda acordar de madrugada para ir correr. Ah, claro, correr todos os dias. Em qualquer momento que não atropele o horário de expediente. Ler capítulos inteiros e nem um par de pequenos olhos furando-nos a nuca a pedir atenção. Ouvir música alto. Mas só um bocadinho porque depois perturba a preciosa paz. Ir a pé para o trabalho. Ter a casa arrumada, as toalhas direitas no toalheiro, o chão à volta da sanita sem respingos (esta tenho um bocado de vergonha de confessar que é das minhas preferidas). Ir cortar o cabelo e, perdendo a cabeça, deixar que nos pintem as unhas. Sobrarem várias horas ao dia e haver uma certa surpresa e vergonha nessa constatação. Também sobra um bocado de silêncio, agora que penso no assunto. E falta-me o cheiro, o toque de outra pele. Mas não vale a pena estar para aqui agora a desfazer o cenário idílico, confessando saudades ao fim de apenas um dia.

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